domingo, 17 de maio de 2009

A PEDAGOGIA DE JESUS

Todo discípulo de Jesus precisa ensinar, em algum nível (I Tm 3:2 / Mt 28:18-20). E se queremos aprender a ensinar, nada melhor que aprender com o Mestre.
Acredito que aprender a ensinar é essencial na formação intelectual de qualquer líder de qualidade. Todos já tivemos ou já ouvimos falar de um professor que “sabe muito, mas não sabe ensinar”. Não podemos ser assim. Se não ensinarmos o que sabemos, como levar adiante o nosso trabalho? Nossa influência será limitada à nossa presença pessoal, àquilo que pudermos gravar ou transmitir, e à duração de nossa vida. Imagine se Jesus não tivesse ensinado seus discípulos. Não creio que sua obra teria alcançado o que alcançou, mesmo que Ele tivesse escrito muitos livros. Jesus sabia que o melhor era reproduzir-se a si mesmo, através do ensino, na vida de seus seguidores. Assim, vamos olhar para a pedagogia do Mestre, e aprender com ele.
1. Jesus gerava desejo de aprender (Lc 11:1). Princípio zero do ensino eficaz: espere o aluno ter fome antes de alimentá-lo. Como Jesus gerou fome em seus discípulos? Vivendo em um nível acima do que eles viviam. Eles já eram judeus fiéis ao Deus de Israel, e com certeza sabiam orar. Mas eles perceberam que Jesus tinha algo a mais: intimidade com o Pai. Se quisermos que as pessoas desejem aprender conosco, precisamos viver vidas que, quando observadas, gerem fome e sede de Deus. Não podemos ser professores de teoria.
2. Jesus era fiel à Palavra de Deus (Jo 7:16). Se Ele, o Filho de Deus, dependia tanto da Palavra do Pai para ensinar, quem somos nós para não fazer o mesmo? Precisamos alimentar as pessoas com comida nutritiva. Quanto tempo você gasta alimentando sua própria mente com a Palavra de Deus? Quantos bons livros você lê por ano? Quanto tempo faz que você não vai a uma conferência ou faz um curso para se reciclar?
3. Jesus ensinava expondo as Escrituras (Lc 24:32,45). Os corações de seus ouvintes ardiam de modo diferente ao ouvir as mesmas palavras que eram pregadas todo sábado nas sinagogas. Por que seus alunos ficavam incendiados ao ouvi-lo? Uma das razões, sem dúvida, é que Ele falava mostrando o plano de salvação ao longo das Escrituras. A Lei e os Profetas deixavam de ser meros conjuntos de preceitos religiosos e tornavam-se a história do amor de Deus pelo homem, culminando na própria pessoa de Jesus. Ame a Palavra, e ensine-a com paixão. Modismos passam, teologias mudam de geração em geração, mas a Palavra de Deus permanece para sempre! Ela é fogo que inflama o coração do pregador, e depois, dos que o ouvem.
4. Jesus ensinava fazendo perguntas (Mc 3:4; 8:27; 11:30; 12:16). Veja nos evangelhos quantas vezes Jesus usou uma pergunta para introduzir seu ensino. A vantagem óbvia desse método é que o ouvinte é levado a pensar sobre o assunto, e sua resposta o envolve pessoalmente no ensino.
5. Jesus ensinava em qualquer lugar (Mc 4:1). Nas sinagogas, no templo, nas ruas, na praia, nos campos, junto a um poço, Jesus não esperava condições ideais para ensinar. Onde houvesse gente, o Mestre detectava as necessidades e ministrava seu ensino. Suas aulas eram contextualizadas na própria realidade das pessoas.
6. Jesus ensinava usando ilustrações da vida das pessoas (Mt 6:26-30). Lembro-me de que no ano de 1992, durante uma viagem missionária aos povos ribeirinhos que vivem na bacia do Amazonas, um amigo foi muito bem-sucedido ao pregar sobre a pesca maravilhosa, usando ilustrações de fácil compreensão para aquelas pessoas que têm na pesca um meio de subsistência. Sua pregação os atraiu simplesmente por falar de algo que era parte de seu cotidiano. Assim era o ensino do Mestre: totalmente situado na realidade de seus ouvintes.
7. Jesus ensinava por compaixão (Mc 6:34). A motivação de Jesus era seu amor pela humanidade. A dos religiosos que ensinavam nas sinagogas era a manutenção das tradições que faziam deles uma classe dominante. E nós, por que ensinamos? Por orgulho, por obrigação, por dinheiro, para sermos famosos e reconhecidos? Cristo ensinava por ter compaixão da miséria espiritual das pessoas. Seu ensino transpirava amor e sincera preocupação com as vidas.
8. Jesus ensinava objetivamente (Mc 12:38). O Senhor não suavizava os problemas. Não polia o discurso por medo de ofender alguém. Não “enrolava” os ouvintes, enfadando-os com falatórios incompreensíveis. Penso que devemos buscar sempre ensinar com a máxima objetividade e simplicidade possível. Já há muito “blá-blá-blá” inútil por aí, nas igrejas e palanques da nação, sem falar na mídia em geral. Ninguém gosta de ouvir uma mensagem confusa, nebulosa, cheia de subentendidos e mal-entendidos. As palavras dos que ensinam a Bíblia devem ser claras, simples e precisas, como parafusos bem apertados em sua própria rosca, e não como pregos batidos aleatoriamente.
9. Jesus ensinava confrontando o erro (Mt 22:29). A Verdade expõe a mentira, a Luz expõe as trevas. O verdadeiro ensino bíblico deve confrontar direta e claramente o erro. Isto só pode ser feito por pessoas que conhecem solidamente as Escrituras, e que têm um íntimo relacionamento com seu Autor. Por quê? Porque estas eram as características de Jesus.
10. Jesus “ensinava como quem tem autoridade” (Mt 7:29). Este é um dos maiores contrastes entre Jesus e os escribas, os mestres religiosos de seus dias. Ainda hoje, há muitos que ensinam; mas quantos possuem vidas coerentes com seu ensino? Quantos tem um caráter que sirva de lastro à sua pregação? Esta é uma poderosa fonte de autoridade: estar empenhado em viver o que se prega. E isto só pode ser verdadeiramente mensurado com o passar do tempo. O verdadeiro teste de qualquer ministério é sua regularidade ao longo dos anos, testado pelo mais impiedoso dos juízes: a avaliação das pessoas. Que possamos viver vidas irrepreensíveis que nos autorizem a enfrentar destemidamente a opinião pública como fez Samuel (I Sm 12:3).
11. Jesus ensinava ancorado na prática pessoal (At 1:1). Primeiro Ele fazia, depois ensinava. É o oposto da famosa máxima “faça o que mando, não faça o que faço”, seguida infelizmente por muitos líderes evangélicos. Por exemplo, falamos tanto sobre perdão, porém temos que admitir que existem muitos pastores rancorosos e amargurados, que nunca perdoam ninguém. As ovelhas vêem esse comportamento incoerente, e o evangelho perde a credibilidade. Jesus ensinou sobre perdoar os inimigos, e viveu a prática disto até às últimas conseqüências. Assim devemos ser: ler a Palavra não para arrancar dela mais um sermão para as pessoas, mas para mudarmos nossa própria vida primeiro, e depois compartilhar o que temos aprendido do Senhor.
12. Jesus ensinava contando histórias (Mc 4:2). O Mestre amava contar histórias. O povo amava ouvi-las. Isto não mudou até hoje, nem nunca mudará. Observe o povo durante uma pregação: por mais desinteressadas que estejam, as pessoas “se ligam” assim que o pregador começa a contar uma história. Ao ouvir uma boa história, aprendemos nos divertindo, sem perceber que estamos aprendendo. Princípios e valores são inculcados na memória indelevelmente, de forma muito mais agradável que uma exposição didática. Jesus sabia também que uma história separa quem realmente quer ouvir e entender de quem não quer. Nas palavras de Charles Colson: “Apenas pensemos na maneira efetiva de Jesus no uso de imagens e histórias. Ele poderia ter somente dito: ‘cuidem do povo que está ferido e vitimizado’. Ao invés disso, contou a história do bom samaritano. Ele poderia ter apenas dito: ‘Deus perdoa seus pecados’. Ao invés disso, contou a parábola do filho pródigo. Por quê? Por que uma história atinge aspectos da verdade que estão além do poder do ensino didático. Símbolos, metáforas, alegorias e imagens afetam a pessoa inteira – as emoções e os sentidos tanto quanto o intelecto.” 1 O bom professor coleciona histórias folclóricas, casos interessantes do passado e da atualidade, fábulas, contos infantis, filmes e quaisquer outras fontes de ilustração, para auxiliar no ensino da Palavra Eterna.
13. Jesus ensinava no nível dos ouvintes (Mc 4:33). Um princípio óbvio, insistentemente ignorado por muitos. A verdadeira sabedoria não é arrotar conhecimentos numa linguagem estranha aos ouvintes, mas falar-lhes como eles falam. As pessoas “desligam” imediatamente quando não estão entendendo o discurso de quem ensina. O bom professor deve estar atento aos seus ouvintes, verificando sempre se eles estão compreendendo o ensino.
14. Finalmente, Jesus alertou para as marcas dos falsos mestres (Mt 23:1-7). Eles ensinam e não vivem; eles oprimem as pessoas com padrões irreais de comportamento, legalistas e carregados de misticismo absurdo; eles ensinam para serem louvados pelos homens; e eles amam, acima de tudo, as distinções e títulos pomposos. Precisamos fugir dessas atitudes malignas, e buscar as características do nosso amado Mestre, Jesus de Nazaré.


1. COLSON, Charles & PEARCEY, Nancy. E agora como viveremos? Rio de Janeiro: CPAD, 2000.

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